Sempre tive o desejo de ser mãe nova mas, honestamente, nunca tão nova como
acabou por acontecer. Tinha apenas 19 anos. Escusado será dizer que todos
acharam que estávamos L-O-U-C-O-S e até certo ponto, quem sabe se não teriam
razão?
Pouco antes do nosso primeiro Natal juntos descobrimos que eu estava
grávida! Foi um misto de emoções. Se por um lado o meu marido ficou delirante,
eu alternava entre a euforia de ser mãe, a incerteza das minhas futuras
capacidades assim como a sensação de que iria perder a minha
juventude.
Não foram nada fáceis os dias que antecederam a primeira ecografia, no entanto
todas as incertezas e dúvidas desapareceram e quando soubemos que era uma menina, então! Deus tinha
ouvido a minha oração e a Madalena estava a caminho.
Fora uns pequenos sustos, posso dizer que no geral a gravidez correu sem problemas
e por essa razão não tive um acompanhamento especial.
Eu morria de medo do parto e quando mais a data se aproximava, mais medo eu tinha mas, no geral, até que
estava tranquila.
Na tarde do dia 30 de Agosto de 2003, era sábado e do nada, comecei a ficar pálida, lábios roxos, com náuseas e a bebé a mexer pouco. Recorri à urgência, a bebé foi monitorizada e mediram-me a tensão. Estava com sintomas de possível pré-eclâmpsia porém, mandaram-me para casa. Na madrugada de 2 de Setembro, 2 dias depois, recorri à urgência pois a Madalena estava a dar sinal. Eu nunca poderia imaginar o que me esperava. Entrei no Bloco de Partos às 6h30 da manhã e fui levada para uma cesariana de urgência apenas às 20h. Durante todas estas horas estive calma e nem um "ai" se ouviu da minha boca só que começaram as complicações e tanto os meus sinais vitais como os da Madalena começaram a baixar. Até hoje o meu marido não consegue lembrar-se disso sem chorar.
Na tarde do dia 30 de Agosto de 2003, era sábado e do nada, comecei a ficar pálida, lábios roxos, com náuseas e a bebé a mexer pouco. Recorri à urgência, a bebé foi monitorizada e mediram-me a tensão. Estava com sintomas de possível pré-eclâmpsia porém, mandaram-me para casa. Na madrugada de 2 de Setembro, 2 dias depois, recorri à urgência pois a Madalena estava a dar sinal. Eu nunca poderia imaginar o que me esperava. Entrei no Bloco de Partos às 6h30 da manhã e fui levada para uma cesariana de urgência apenas às 20h. Durante todas estas horas estive calma e nem um "ai" se ouviu da minha boca só que começaram as complicações e tanto os meus sinais vitais como os da Madalena começaram a baixar. Até hoje o meu marido não consegue lembrar-se disso sem chorar.
A um determinado momento comecei a desfalecer e a deixar de sentir as
dores. Lembro-me de fechar os olhos e pedir a Deus que salvasse a minha filha. Honestamente? Pensei que ia morrer ali mesmo e que
não iria conhecer a Madalena. Tive medo, muito medo! Senti a vida a ir embora
do meu corpo enquanto o meu marido me abanava em pânico, tentando arrancar de
mim alguma reacção. Nesse momento uma nova equipa
médica entrava ao serviço e não perderam mais tempo, fui levada às pressas para
a cesariana e só quando me abriram é que viram que eu tinha uma condição muito
delicada chamada placenta prévia. A Madalena por sua vez tinha engolido
líquido amniótico, e como se isso não bastasse tinha 2 circulares do cordão
umbilical à volta do pescoço e teve de ser reanimada.
Pensámos que
as batalhas da Madalena tinham ficado por aí mas com o passar dos meses era
visível que algo não estava bem ainda que eu insistisse em não querer admitir
que a minha filha poderia ter algum problema.
Quando se vive,
como eu, com sentimentos de rejeição durante tantos anos ao ver-me confrontada
com a possibilidade de uma filha que não fosse "normal" era mais do que eu
conseguiria aguentar. Era como que uma facada no meu peito… "Nem para gerar filhos eu
sirvo", "Claro! Tinha de ser comigo… Nada dá certo comigo!" Esses eram alguns
dos pensamentos que me assombravam e que tanto me assustavam. Só quem como eu
se sentiu indesejado ou inadequado sabe o que isto é.
Começámos por tratar um problema que julgávamos ser a causa do
desequilíbrio porém, ninguém nos preparou para o que viria a
seguir. Depois de uma série de exames rigorosos prescritos pela pediatra, então é que se abriu o chão debaixo de nós… A Madalena tinha lesões cerebrais nos 2 hemisférios
do cérebro provocadas pelo parto o que a curto prazo a tornariam semelhante a
uma criança portadora de paralisia cerebral. O diagnóstico era de que não
iria ter autonomia, não iria correr, brincar e até conseguir comer sozinha
seria uma vitória.
"NÃO, NÃO,
NÃO!" gritei em frente à médica. Dei murros na secretária enquanto gritava que
ela estava errada. Não, eu não ia ter uma filha assim! Fiquei furiosa,
revoltada… Senti-me esquecida por Deus, castigada por alguma coisa que tivesse
feito! O que eu mais temia, acontecia. Sentia que nem para ter filhos eu
servia. Na minha cabeça eu era tudo o que de pior uma mulher podia ser! E foi
exactamente isso que eu gritei a Deus. A dor era insuportável. Já não bastava o
trauma do parto e agora isto!
É muito
difícil admitir mas, naquele momento, eu desejei nunca ter ficado grávida. Apetecia-me
bater em toda a gente que me dizia que tudo iria ficar bem, que confiasse em Deus,
só que era eu que iria ter uma filha dependente de mim toda a vida, era eu que
teria de lidar com todas as suas limitações. Queria ser forte mas a verdade é
que, por momentos, a minha esperança e fé desapareceram. Eu queria orar pela
minha filha mas tudo o que conseguia era chorar, gritar, gemer e nem o meu
marido sabia como eram os meus dias. Passei dias inteiros a chorar de manhã à noite
lutando contra as vozes que dentro da minha cabeça me diziam que a culpa da
minha filha ter aqueles problemas era minha.
Se na altura
eu dei a batalha por vencida? Dei! Se eu desisti de lutar? De certa maneira, sim! Aquelas notícias tinham destruído o meu sonho da família perfeita e isso… era
mais do que eu conseguia aguentar.
Deus, porém, tinha outros planos para nós.
Inexplicavelmente, passadas algumas semanas apenas, a menina já se
sentava sozinha e começou a dar os primeiros passos sem qualquer
ajuda.
Seis meses depois da consulta, a Madalena entrava sozinha no consultório e a própria pediatra disse que estávamos perante um milagre pois os danos no
cérebro eram extensos e profundos. Pouco depois, ao consultar um otorrino particular
descobrimos que as lesões tinham-se estendido à audição.
A Madalena tinha uma surdez profunda bilateral. Teria mesmo de aceitar que tínhamos
uma filha com deficiência. Não foi fácil! Às vezes
penso que inconscientemente queria que ela fosse tudo o que eu nunca fui,
tivesse o que eu não tive, alcançasse o que não alcancei. Acho que é normal
desejar isso para um filho, certo? Querer que ele vá sempre mais longe, mas a medicina dizia-me que isso
não seria possível, pelo menos não da forma que eu pensava, da forma "normal" pois ela era
surda!
Foi um longo
processo até o meu coração ficar totalmente curado dessa ferida. Graças a Deus
a Madalena foi operada e colocou um Implante Coclear. Hoje faz a sua vida
normal.
Depois de tudo isto eu fiquei com pânico de engravidar novamente ainda que
o meu sonho fosse ser mãe de uma menina e de um menino. Sem que eu me desse
conta esse medo foi desaparecendo e o nome Davi Emanuel pairava sobre a minha
mente. Afastei esse pensamento pois os médicos disseram que muito
dificilmente voltaria a engravidar. Era difícil mas não impossível. Estabeleci
uma data e passado um tempo, eu nem queria acreditar! A seguir ao meu marido,
liguei ao meu pai que pediu um neto para poder ter companhia para ir ver o
Benfica. Infelizmente não o conheceu pois faleceu no mês seguinte. Quando o meu
pai faleceu tive de fazer uma escolha, ou lutava com todas as minhas forças para manter
aquele bebé dentro de mim ou deixava a dor tomar conta do meu coração.
Reprimi tudo e concentrei-me naquele bebé. O meu segundo milagre!
Hoje a
Madalena tem 13 anos e o Davi 7… Nunca imaginei que passaria por estas aventuras e que seriam estas as lutas que me ensinariam a ser mãe. Honestamente,
hoje consigo avaliar que sem estes percalços o meu egoísmo não teria sido
tratado. Se muitas vezes tive vontade de abandonar tudo e fugir? Sim, muitas
mesmo!!! Mas… como alguém me disse num dia particularmente difícil "Ser mãe de
uma criança especial, faz de mim uma mãe especial e por isso mesmo Deus achou
que eu seria capaz!
Graças a
Deus a Madalena tem hoje acesso a um Agrupamento de escolas com ensino bilingue para
alunos surdos que, apesar de ser um pouco longe, tem feito maravilhas por ela! O apoio
que temos recebido dos professores é fantástico e somos muito gratos por isso.
A família,
os amigos, a igreja também têm sido um factor importante… É claro que nem todas
as pessoas com quem lidamos conseguem ter a sensibilidade e a capacidade de se
colocarem no nosso lugar mas acho que isso é normal.
Sou muito
abençoada pela vida dos meus filhos e as alegrias que me dão não têm preço.
Ainda há
dias em que tudo parece enevoado mas cada um deles, à sua maneira, dá-me a
possibilidade de ver vitórias dentro da intimidade do meu lar e da minha
família.
Apesar dos
dias menos bons gostaria de encorajar todos aqueles que se deparam com este
tipo de situações, seja negligência médica, gravidez ou parto que não corre
conforme o esperado a ter fé e esperança em dias melhores. O choro pode durar
uma noite ou até muitas mas a cada manhã é-nos dada a possibilidade de lutar
por aquilo que desejamos que aconteça! A cada novo dia surge uma nova hipótese
de milagre e tudo, TUDO é possível ao que crê!
Quase 15 anos depois do nosso casamento e
após muitas lutas continuamos juntos… Não porque somos bons mas porque Deus é
bom e fiel ao que promete! Se arriscava uma terceira gravidez depois disto tudo? Sim,
completamente!
por Tânia Palmeiro
Edição @Ana Valido
fotos cedidas por @Tania Palmeiro





