Quando o nosso bebé fica doente meses a fio...
Faltava-me a coragem para escrever sobre os últimos 6 meses da nossa vida. Umas vezes hesitei, outras não consegui tempo nem para pensar.
Sabem que para escrever temos de não só pensar mas, sobretudo, sentir novamente todos os acontecimentos e, alguns deles, confesso, ainda não consigo processá-los bem. Doem muito, fazem-me chorar. Trazem-me uma falsa culpa.
Precisava, como a terra seca precisa de água, de um tempo a sós, comigo mesma, para conseguir absorver, beber e aceitar acontecimentos que ainda sinto que não fazem parte de mim, da Ana super otimista que sempre encontra solução para tudo e que sempre vê o lado bom do caos.
Escrever e partilhar com o coração aberto, acredito, que também me vai trazer alivio. Só não me consigo resignar... não aceito continuar assim.
O Simão entrou para a escola que escolhemos sem hesitar, no dia 7 de Dezembro. Lá foi ele, de chucha e Ó-ó.
Não o via, nem vejo, noutra escola. Sem desprimor nenhum para todas as outras que são certamente excelentes e algumas mais até em conta mas, tenho aqui de o escrever publicamente. A escola do Simão, para mim, é como uma família que eu prezo muito, onde tenho amigos, e onde me sinto em casa. Quando deixo o Simão na escola, a mesma que acolheu a Beatriz aos 5 meses, sinto que o deixo com uma 2ª família. Uma família cristã, como eu, com princípios de vida que admiro, com um projecto sempre de excelência que melhora de ano para ano e com um trabalho diário que tira partido do melhor que as nossas crianças têm, deixando-as voar para alcançar os sonhos ao mesmo tempo que lhes ensina um óptimo carácter.
Por tal, não foi a escolha da escola que me trouxe angústia, foi sim deixar o Simão todos os dias desesperado, a chorar desalmadamente, que me desanimou. Foi difícil porque foi uma experiência nova para mim. A irmã entrou aos 5 meses a adaptou-se lindamente, sem choros. O Simão entrou depois de 18 meses de mimo e colo da super avó... nada fácil. Custou-me muito!
Mas o que me custou ainda mais veio a seguir.
Nada me preparara para os enormes desafios que chegaram com um dos piores Invernos de que há memória. Esta mãe, ainda em estado de plena felicidade, foi-se deixando abater à medida que se iam sucedendo, cada vez mais próximas e agressivas as amigdalites do Simão. Em véspera de Natal já contávamos com o 3º frasco de antibiótico e um
traumatismo craniano pelo meio. Eu e a Beatriz também tínhamos adoecido ao mesmo tempo que o Simão.
Em Fevereiro quando consultámos o otorrino foi com muita preocupação que vimos confirmadas as nossas suspeitas e as da educadora, de que o Simão estava a ouvir muito mal. Tinha otites serosas, ou seja, as secreções do nariz estavam a escorrer para os ouvidos e os tímpanos não vibravam. Era como se ele ouvisse com a cabeça debaixo de água.
No inicio de maio, numa sexta à tarde, o Simão começou com os mesmos sintomas de sempre mas elevados ao quadrado. Febres, mais altas que o normal, não cediam aos já comuns tratamentos de
Paracetamol intercalados com
Ibuprufeno, ou seja, a febre cedia uns graus sem baixar dos 38. As queixas do nariz e garganta começavam a manifestar os seus sintomas e, de seguida, lá vinham os vómitos. Trocava a roupa da cama e o pijama, uma e outra vez... até que cedíamos ao cansaço, extenuados, e lá o deixávamos dormir na nossa cama. Entre os dois, lá passávamos as noites com o nosso príncipe pequenino no meio enquanto íamos dormitando e vigiando, medindo febre, trocando fraldas, trazendo leitinho, colocando toalhas frias. E mais um supositório, e mais outro... e nada! O cenário já era familiar mas nem por isso fácil e esta era já a 9ª amigdalite que víamos o nosso bebé suportar.
Sábado, a conselho do pediatra lá fomos para Cascais. Análise à garganta que não acusava bactérias... saímos mais cansados do que entrámos, saímos sem paz nem confiança e o nosso menino saiu pior do que entrou.
No Domingo piorou, recusava água e comida e os vómitos estavam com uma cor estranha.
Quando na Segunda vi sangue nas fezes do meu filho corri para o
Hospital da Luz. Depois da ineficácia de Cascais e sabendo que se iniciava uma semana de greve de médicos, não arrisquei. Ficou internado de segunda a sexta, com antibiótico intravenoso. Precisavam de confirmar a origem do sangue que se comprovou vir das amígdalas. Uma situação muito rara em crianças tão pequenas. A amigdalite era muito severa e custava-lhe muito a respirar e já começava a desidratar. Logo quando teve alta foi aconselhado (em relatório) a antecipar o que já tínhamos falado com o otorrino inicialmente: Extrair os adenóides e colocar tubos nos ouvidos. Também nos aconselharam, agora face a este episódio, a ponderar a extração das amígdalas.
9 amigdalites em menos de 6 meses era justificação suficiente, mesmo para um menino que ainda não tinha completado 2 anos.
Confesso que estávamos perdidos sem saber o que decidir. Quisemos ver todas as alternativas e procurámos inclusive um Homeopata infantil muito conceituado. Também nos doía a alma cada vez que íamos à farmácia comprar mais um frasco de antibiótico, ou cada vez que o nosso filho ficava de cama doente. Eu e o Pedro alternávamos os primeiros dias mas, depois, lá tinha de vir a minha mãe cuidar dele até recuperar totalmente. Nunca mandei o meu filho para a escola com febre e sempre esperámos, pelo menos, 2 a 3 dias depois da febre passar para que ele ganhasse forças e voltasse à escola. Tudo inútil... 8 dias depois de ter alta hospitalar volta a adoecer com a 10º amigdalite.
Foi o nosso basta! Depois de muito ponderar, chorar, questionar, decidimos o que achávamos ser o melhor. Tratámos de tudo para que fosse operado. Já tínhamos mais do que uma opinião e o total apoio do pediatra. O médico otorrino do Simão já realizou mais de 1500 cirurgias e nunca tinha, até à data, conhecido um bebé que tivesse sangrado das amígdalas. Imaginem, por um segundo, estarem num consultório e ouvirem isto de um profissional com 40 anos de experiência. Foi devastador e não consegui conter as lágrimas quando sai. Porquê o nosso menino? Tão desejado, tão bem cuidado, tão bem alimentado?
Pelo meio consultámos uma pediatra de Desenvolvimento e o Homeopata Infantil e ambos foram unânimes em acharem que a cirurgia era urgente principalmente para restaurar a audição do nosso bebé e ajudá-lo, a partir daqui, a ganhar o tempo e qualidade de vida perdidos.
O Simão foi ontem, dia 21 de Junho, operado e correu tudo bem. O pós-operatório, não minto... é horrível! Ainda estamos aqui a lutar com febre e dores e rejeição de alguns alimentos que ele não está habituado a comer: Frios, por exemplo, o meu filho nunca tinha comido gelados, nem iogurtes líquidos e/ou sumos com açúcar. E é tudo o que mandam comer depois da cirurgia... até leite com chocolate uma noite deixaram no hospital... a um bebé de 2 anos?? Como é possível?? Temos insistido, agora em casa, em iogurte sem açúcar, fruta quase liquida batida e bebidas vegetais em vez de leite, uma vez que o leite foi desaconselhado pelo Homeopata, tudo fresco.
Temos muita esperança e fé de que um novo capitulo começa a partir de hoje.
Temos muito trabalho pela frente porque o Simão tem de ser muito estimulado e ajudado a dizer bem as palavras.
Temos muito a agradecer: À Educadora Sara, pelo investimento, disponibilidade e sensibilidade para com o meu /seu bebecas e enorme profissionalismo e paciência em me aturar; à Dra. Fátima, e à Daniela, pelo carinho e pelo abraço quando já desesperada me desfiz em lágrimas na escola; aos excelentes profissionais, médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar que encontrámos no
Hospital da Luz, o mesmo Hospital que viu nascer o meu menino! Eternamente grata!
Obrigada ao pediatra do Simão pelo cuidado, disponibilidade total e preocupação,
Dr. Manuel Oliveira que já era o pediatra da mana. Obrigada ao
Dr. Lacerda e Mello que ontem o operou e ainda esta tarde me ligou para saber do Simão e para se disponibilizar, mais uma vez, para qualquer esclarecimento, e fê-lo apesar das suas circunstancias pessoais. Desejo-lhe o melhor. Obrigada, por ultimo, mas não menos importante, ao
Dr. Nuno Oliveira que conheci faz pouco tempo, mas que já nos ensinou tanto. Obrigada pela paixão, disponibilidade e humanidade que demonstrou.
Obrigada a toda a nossa família pelo apoio e presença constante, ao meu marido pela enorme paciência, à minha filha (foi muito duro tudo isto para ela) e à família ICMAV que tem sido incansável no amor e carinho. Vocês todos juntos têm sido a nossa força quando a mesma nos falta, e tem faltado muito, acreditem.
Esta é a explicação da minha ausência. Meses muito duros, de muita preocupação e impotência. Sinto que perdi anos de vida. Que Deus me ajude e me fortaleça.
Só queremos ver o nosso menino bem e saudável em todos os aspectos. É o que todos os pais querem, não é?
Estejam à vontade para colocarem questões pois há muitos detalhes sobre os quais não escrevi aqui.
Obrigada por me lerem...
Deus vos abençoe
@anavalido 2018
Revisão Beatriz Valido