terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Amor e dor, de mãos dadas

O meu nome é Jandira Lopes, tenho 34 anos e sou mãe de 4 filhos. 1 menino e 3 meninas (os gémeos Gonçalo e Sara, a Margarida e a Madalena). Infelizmente, a Sara já partiu para o céu mas continuo a ser a sua mãe e um dia sei que voltaremos a estar juntas.
Tive a honra de ser convidada pela minha amiga Ana Valido para escrever sobre maternidade. O objectivo seria partilhar algo que eu achasse relevante sobre a minha experiência em ser mãe. Aceitei logo mas, confesso, quando comecei a escrever tive muita dificuldade, até bloqueei. O que é que eu posso dizer que seja importante para outras mães? Por onde começo?

Aos 21 anos engravidei de gémeos. Tínhamos casado, eu e o Bruno, apenas há um ano. Comprámos um T1, 1 carro comercial e eu estudava história da Arte enquanto trabalhava. Como jovens que éramos tínhamos tudo planeado. Comprávamos uma casa pequena, eu ia tirando o curso devagar, viajaríamos, mais tarde queria dar aulas e lá para os 28 pensava em ser mãe. Queria ter dois filhos, pelo menos.
De repente a vida surpreende-nos com o inesperado e tudo sai fora dos planos. - Está gravida de 8 semanas e de gémeos! -Uau! Mal tinha conseguido gerir o que tinha ouvido e aceitar aquela benção a dobrar. 17 semanas depois eu entrava prematuramente no hospital em trabalho de parto sem causa aparente e dei à luz dois bebés minúsculos com apenas 25 semanas e pouco mais de 500 gramas.
Lutavam entre a vida e a morte. Ali vi sofrimento a sério. Abruptamente sai da minha meninice e conheci e convivi com seres humanos insensíveis e maus e outros maravilhosos e inspiradores. A dor que sentia era igualmente intensa e infinita, como o amor de mãe deve ser. Andavam de mãos dadas amor e dor exactamente na mesma proporção. 
Foi nessa altura que aceitei Jesus na minha vida como meu Senhor e Salvador pois, afinal, eu precisava de forças, de salvação e luz e direcção. Seis meses depois de tantas dificuldades saí do hospital com uma menina linda, que apenas 1 mês depois de nascer ficou com um diagnóstico de paralisia cerebral gravíssima de quase 100% e totalmente dependente de mim, sem possibilidades de andar ou falar, e com uma grave epilepsia. Também saí com um menino lindo cujo diagnóstico dizia que iria depender de oxigénio artificial durante, não se sabia quanto tempo, e que convinha desde já mentalizar-me que esse menino iria andar sempre internado, com infecções respiratórias e etc. Já não podia mais ouvir mais nada daquilo. Era uma pesada sentença de desgraças, e o meu coração estava triste e partido, com uma força de mãe que só as mães têm e uma única esperança em Deus e no seu auxilio e a imensa vontade de honrar cada gota de sangue que os meus filhos perderam, cada picada (até perdi a conta) cada reanimação, cada operação, entubação, infecção, transfusão e muitos "ãos" e "ites" a que aqueles pequeninos seres sobreviveram, tão frágeis, tão valentes e tão limitados à sua condição mas que me deram tanto amor sempre que as suas mãos feridas e minúsculas se fechavam na cabeça do meu dedo, ou que o seu coraçãozinho acelerava apenas por eu chegar perto deles no hospital. 
Lembro-me que liguei à minha mãe, que foi quem semeou no meu coração que Deus é bom e que a salvação vem Dele, chorei muito! Dizia-lhe: - mãe não aguento mais a Sara tem um destino cruel e agora o Gonçalo vai estar sempre aqui internado dizem os médicos - . A minha mãe desligou e ligou-me 5 minutos depois com um recado. - Jandira, orei a Deus e Ele falou comigo e disse-me abre a Bíblia em Isaías 37:6. - O texto dizia: Não ligues ao que acabaste de ouvir, estas a ouvir filha?! DEUS disse não ligues ao que os médicos acabaram de dizer sobre o Gonçalo filha, acredita! Eu acreditei pois afinal só me restava a fé e a esperança que Deus iria cuidar de nós, pelo menos era a Sua promessa.
Mais tarde o Gonçalo, já livre do oxigénio, com uns 5 anos numa consulta de rotina de pneumologia, a Dra. disse aos seus alunos assistentes, ela e não eu: - Eu vi este menino nascer e ele passou por isto e aquilo (lá descreveu). Foi dependente de oxigénio por dois anos e não meses como eu previ e é um bebe milagre. Nunca foi internado e nunca teve nenhuma infecção respiratória. 
Deus é bom e cumpre tudo o que diz, cuidou de nós e mesmo não curando a Sara, deu-nos tudo o que precisávamos. A Sara foi muito amada e bem cuidada e estava sempre a sorrir. Ensinou-nos a todos a sermos pessoas melhores e mais sensíveis. Acredito que filhos especiais fazem pais e irmãos especiais. Ela mesmo sendo diferente e tão limitada deu-me tanto amor e ajudou-me a suportar uma vida difícil de luta, sonhos adiados, interrompidos, impossibilidade de fazermos coisas normais como ir ao cinema, ir à praia. Não podíamos porque ela era imunodeficiente  o que a fazia adoecer com frequência. Nunca deixei de sorrir porque aprendi com a Sara a não desistir de viver, e ela queria muito viver. Pelo contrario, aprendi a ser feliz na adversidade, a dançar na chuva e a ser feliz com muito pouco, a valorizar o que realmente importa.
Deus forjou-nos a nós, sua família, através do sofrimento e tornou-nos melhores pessoas como não seria possível de outra forma. Transformou tudo o que era mau em coisas boas. Na carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios diz no Cap. 2:9 A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.  
Eu não posso dizer que Deus às vezes decide não curar, porque não vi isso acontecer na Bíblia. Jesus sempre curou por onde passou. O que sei é que este versículo foi a Sua palavra para a minha vida muitas vezes e sim, eu vivi pela Sua Graça e Ele foi glorificado nas minhas fraquezas. Em todas as adversidades que vivi Deus tocou outros à minha volta. Hoje a minha família próxima é quase toda crente. Vi tantas maravilhas de Deus e fomos tão abençoados que não tenho aqui espaço para escrever tudo. Percebem agora porque que não sabia por onde começar? 
O que quero partilhar, de facto,  é que nos momentos de maior dor, vi Deus sempre os transformando em algo bom.
3 anos depois foi muito importante para curar esta ferida emocional viver o amor maravilhoso da maternidade sem dor. Fui mãe da Margarida, uma menina saudável com quem já vivi a experiência normal da maternidade em que saímos do hospital com uma bebé linda e saudável e com um enxoval todo preparado por mim. Pude descansar em paz porque Deus tinha-me revelado que eu iria segurar um bebé que eu embalava e sentiria só amor e não dor. 
A dor que eu sentia quando segurava na Sara era porque não iria andar nem falar, porque não brincava com o irmão, porque não segurava nos brinquedos. Com a Margarida apesar dos nossos medos e não ter sido uma gravidez planeada foi algo fresco e renovador, um presente de Deus não só para nós como país mas especialmente para os irmãos. 
O Gonçalo já tinha com quem brincar e a Sara tinha uma mana para a ajudar e estimular. Aconselho todos os pais que tiveram uma má experiência que, se possível, tenham outro filho. É bom para todos. Só vivendo isso dá para perceber. 
Deus levou a Sara sem dor e inesperadamente aos 7 anos de idade, num domingo durante o sono. Prefiro realçar como Deus cuidou de mim nessa altura, me ajudou e me carregou no colo durante aqueles dias de dor intensa. Vivi novamente dias parecidos com aqueles em que se deixa de ter uma filha saudável para ter uma filha que não iremos nunca conhecer qual a sua cor preferida, quais os seus sonhos, passos, conquistas e escolhas de vida. São momentos indescritíveis em que sentimos que um comboio nos atropela e não sabemos se vivemos ou se morremos.
Deus, na sua infinita bondade, salvou-me uma vez mais. Hoje vivo em paz com a perda da Sara. afinal sempre lhe pedi ou que a curasse ou que a levasse para perto Dele, onde não há dor nem doença. Pobres dos pais que não têm esta certeza. Só não esperava que fosse tão cedo e sem aviso prévio. Pode parecer duro uma mãe dizer isto, mas sabem, duro é viver uma vida em que estamos presas num corpo e que se nos entra uma pestana no olho temos de aguentar até que a nossa mãe repare. Podia descrever muito mais mas penso que esta imagem chega. Apesar de sempre sorrir para nós, a Sara sofreu e muito e eu pouco podia fazer. Isso mata-nos por dentro, ver um filho sofrer e sofrer todos os dias. Mas ela já não sofre mais e está feliz agora e isso consola-me e esta separação é só um "até breve".
Ainda em luto engravido, mais uma vez inesperadamente, da Madalena. Uma menina linda, saudável e até um pouco parecida com a Sara. Ninguém substitui ninguém, não é isso de todo! mas ela foi, sem duvida, um bálsamo consolador que Deus me deu! No livro de Job Cap. 42:12-15 diz: Desta forma o Senhor abençoou Job, no fim da sua vida, mais do que no principio. Deus deu-lhe igualmente mais outros sete filhos e três filhas e em toda a terra não houve raparigas tão encantadoras como estas filhas de Job.

Obrigada Deus por tudo o que me deste e no que me tornaste. Tu és a minha força. Tu transformas tudo o que está mal em algo bom.

por Jandira Lopes
Edição @Ana Valido

fotos cedidas por @jandy lopes

domingo, 11 de dezembro de 2016

Tive um bebé, o que mudou?

Mais uma vez, é tempo de reorganizar a gestão familiar e todos vamos ter de nos adaptar às mudanças.


Agora que estou quase, quase a regressar ao trabalho, olho para trás e parece-me que o tempo voou... O Simãozinho fez 6 meses e é tempo de reflectir e  de fazer um balanço dentro do meu coração dos acontecimentos do ultimo ano que mudaram radicalmente a minha vida e a da minha familia, para melhor! e agora que uma nova fase vai começar preciso mesmo desta análise para não me perder da minha identidade e do meu papel.
Os sentimentos são diversos mas basicamente dividem-se por um lado no desejo de voltar a uma rotina antiga e habitual, da qual sinto falta, por outro a perspectiva de deixar de estar 24/24 horas com a minha "estrelinha" dá-me um nó no estômago! Outro aspecto que constatei é que também vou passar menos tempo com a Beatriz e a minha disponibilidade para ela vai diminuir. E se o nó no estômago é familiar, este novo sentimento de "culpa" em relação à primogénita é um sentimento novo. Mais uma vez, é tempo de reorganizar a gestão familiar e todos vamos ter de nos adaptar às mudanças.
1 ano em casa fez-me estar mais próxima da Beatriz e muito atenta também ao seu dia a dia. Não quero perder este foco na minha filha adolescente embora agora tenha de me dividir entre 2 filhos e 1 deles muito dependente de mim. 
Fazendo o balanço do pós-nascimento do Simão, hoje quero escrever sobre as mudanças físicas que um novo bebé me trouxe aos 45 anos.


Mudanças Físicas


Peso - Já partilhei que ao engordar 23 quilos, o meu corpo chegou ao limite das forças. 10 dias depois do parto já tinha perdido 11 quilos mas 12 ainda cá estavam em cima destes pobres ossos que tanto me doíam. Estava muito frágil fisicamente, sem resistência e ainda muito cansada, tudo fruto do repouso a que fui obrigada. Certos alimentos cortei logo, como fritos, bolos, processados, enfim, todos os disparates que não me privei durante a gravidez. Mas só ao fim de 3 meses (12 Setembro) comecei com Paleo a sério e Low Carb. 5 quilos, já foram mas ainda faltam 7. Vou lá chegar assim que recomeçar a correr.
As minhas corridas foram outra consequência física. A malvada cesariana assim obrigou. Verdade que desta vez recuperei muito mais rápido mas durante 2 meses fui proibida de correr e caminhar demasiado depressa. Na ecografia que fiz passados 40 dias do parto, ainda tinha vestígios de sangue na sutura do útero. Ainda tentei correr (upss) mas as costuras internas logo deram alerta que era preciso esperar. Agora já faço caminhada sem qualquer desconforto, abdominais superiores e laterais na boa! O resto virá devagar.
A minha energia está no máximo! Durmo lindamente, não tomo quaisquer medicamentos. Sinto-me muito bem. Se bem que não estou a 100% ainda sou uma mãe muito enérgica e activa e isso deixa-me muito tranquila! Logo, logo, vou ter de começar a correr atrás deste rapaz! Tenho de me por em forma rapidamente!

Pele - Ai! a minha pele mudou tanto! Apareceram sinais e mais sinais! no rosto, pescoço, barriga, nas costas então!... Vou ter de os vigiar de perto a partir de agora, não estava habituada a fazê-lo. Um deles, no rosto, aumentou ficou com escama e estava inestético. Foi retirado em consulta de dermatologia com a técnica crioterapia (nitrogenio liquido). Estava na altura grávida de 13 semanas e fiz na Cuf Cascais. Correu lindamente. Noto passado este tempo que os sinais estão mais discretos mas não vão desaparecer. Também fiquei com queratose pilar nos antebraços. Esta é bem mais chata e lenta de tratar. Tenho de esfoliar no banho com luva de crina e hidratar bem com creme da Bioderma para peles atópicas (sou fã deste creme). O dermatologista assegura que no próximo verão, com o sol, vai desaparecer. Outras mudanças têm a ver com as velhas estrias... essas já tinha desde a 1ª gravidez e pouco há a fazer... Não ganhei estrias novas pois desta vez bebi muita água e hidratei até mais não poder, mas ficaram mais acentuadas. Também redobrei os cuidados com o peito e dormi sempre de soutien de ginástica. Aliás, só usei soutien de ginástica durante a gravidez. Sustentam muito bem, são reforçados, confortáveis e não têm arames. Hidratação também é essencial e também não faltou. 

Cabelo - Ui!!! a queda de cabelo! Enquanto amamentei várias vezes por dia, tudo bem com o meu cabelo. Assim que as mamadas diminuíram... o cabelo começou a cair. Desta vez ataquei logo o problema com a ajuda da minha amiga Vanessa Silva, com um produto brasileiro fantástico da Bioextratus. Ainda estou a usá-lo mas a queda parou em 2 semanas e os cabelos novos não tardaram a surgir. Agora uso para dar força aos novos cabelos, gosto muito e recomendo! Seja qual for a causa da queda, este produto ajuda de facto. O que também está a ajudar é o alisamento que voltei a fazer. Hidratou imenso o cabelo, que continua forte, e a manutenção ficou bem mais facilitada agora.


Unhas - As minhas ficaram fraquinhas mesmo. Para além da fragilidade estava com outro problema: o tempo para cuidar delas que já não tenho com um bebé. Não posso simplesmente esquecer as unhas porque a minha profissão exige que as tenha sempre cuidadas. Depois de muita hesitação e duvidas optei pelo gel e é o que uso desde Setembro. Estou fã das unhas de gel!... nunca tive as mãos arranjadas durante tanto tempo. Simplesmente não me preocupo mais e faço de TUDO! Não recomendo ninguém, por enquanto, porque ainda não fui conquistada pelas profissionais que já experimentei. Qualidade/custo é muito importante para mim e eu sou uma perfeccionista. Se me puderem recomendar alguém agradeço, meninas!

Rosto - Tinha de separar o rosto da pele. A pele do rosto e pescoço é muito especial e especifica e necessita de cuidados extra. Durante a gravidez, tive medo de ficar com manchas no rosto e para além disso surgiram sinais que não tinha. Também não saia muito de casa, mas sempre que saia, usava protector solar factor 50. Nos meses a seguir ao parto, continuei a usá-lo sempre na rua. A parte hormonal ainda não está regularizada e é muito importante não ser negligente nesta fase em que ainda estamos muito sensíveis. Sempre que me maquilhava usava o protector como creme de rosto, antes mesmo de usar a base. Eu escolhi o da Avène que tem um doseador e é muito prático cabe na mala ou numa bolsa.

Outras mudanças - Outras mudanças que podemos todas esperar são as do ciclo menstrual. Sem entrar em detalhes, é normal que tudo demore a regularizar. Há que ter paciência e estar atenta a algo que nos parece fora do normal. As hormonas estão ao rubro e a nossa disposição pode variar ao longo do dia. Os maridos são os primeiros a "comer por tabela". Temos de estar conscientes que vamos ter "picos" emocionais durante ainda algum tempo. Tudo o que for exagero, peçam ajuda. Tristeza constante, dificuldade em dormir, maus pensamentos, etc, podem ser sintomas de Depressão Pós Parto. Falem com o médico de família ou com o GO. Não deixem arrastar para ver se passa. Lembrem-se, temos um bebézinho que depende inteiramente de nós e do nosso bem estar. Uma vida literalmente nas nossas mãos. Irei mais tarde abordar novamente este tema emocional.

Para o próximo post vou falar em outro tipo de mudanças que ocorreram cá por casa e também vou falar sobre a alteração da alimentação do Simão que está a correr sobre rodas!...

As mudanças têm um sabor agridoce. Por um lado regresso ao trabalho o que implica menos tempo com os meus filhos, principalmente com o meu bebé. Por outro lado estou feliz porque vou ter a minha mãe todos os dias cá em casa a cuidar dele. Não há melhor sensação que esta, a de termos a melhor mãe do mundo a cuidar dos nossos filhos. Também vou matar as saudades que tenho de a ter perto de mim, que são mais que muitas.
Um beijinho, com carinho.
Obrigada por me lerem! Partilhem se acharem por bem!


domingo, 4 de dezembro de 2016

E depois da dor? Desistir? Não!


Em Setembro de 99 Nascia a família Garcia.
Dissemos que sim naquele dia, que queríamos permanecer juntos em todas os estados da nossa vida. 
Tenho 34 anos, chamo-me Filipa Garcia casei com Tito Garcia neste lindo dia de Outono. No nosso coração já fazia todo o sentido termos filhos e dar assim crescimento às nossas vidas a partir daquele momento. Dois anos mais tarde fiz o meu primeiro teste de gravidez que deu positivo. Família ficou radiante e eu na primeira viagem de pré mamã já me sentia grávida por todo o lado. O meu coração, esse sim, já batia bem forte por aquele ser que ainda nem sequer se tinha manifestado em mim. Dias mais tarde tudo desmoronou. Percebi que algo estava mal. De imediato fomos à obstetra que me falou francamente, não me deu esperanças nenhumas daquela gravidez evoluir. Mas acreditei que aquele bebê seria meu sempre. Mais tarde fui forçada a ir ao hospital onde friamente uma obstetra de serviço me disse "já não está cá nada!
Meu coração congelou sem saber bem o que sentia naquele momento. Foi hora de reunir a família e perceber que tínhamos perdido aquele que já era amado por todos. 
Demos um ano até que veio novamente a boa notícia. Vamos ser Papás! O medo inicial instalou-se mas como não nos damos muito a medos, juntos fomos vendo o nosso bebé a crescer.
- É um menino mamã- disse num tom muito baixo quem me fazia a ecografia às 22 semanas. O pai estava radiante com a ideia do seu rapaz. Lucas, o nome do nosso primeiro filho. Nasceu de cabelo loiro e uma pele muito branca, um olho azul lindo de morrer! Era um menino tão enérgico e tão absorvente que só passados 7 anos nos deu novamente a vontade de sermos Papás de novo. Tínhamos em casa um rapaz ansioso por ter uma mana. Tanto insistiu que pensámos que era o momento. 
 Em Agosto de 2009 o 3º teste de gravidez feito por mim dá positivo! Que alegria o segundo filho vem a  caminho e temos um irmão tão feliz com a ideia de vir a ter uma mana como tantas vezes pediu.

Tudo correu bem, a tão desejada ecografia morfológica diz que vem a mana. Discussão sobre o nome lá chegámos a um consenso. Marta, seria o nome da nossa princesa! Às 29 semanas numa consulta mensal queixo-me de muito cansaço e decidimos que eu ficava já em casa de baixa a descansar e "curtir" a minha gravidez e, ainda assim, acompanhar o mano Lucas. A Marta era uma brincalhona saltitona na barriguinha da mamã. Conversávamos muito e eu prometi-lhe que estava a preparar o enxoval mais piroso e cor de rosa que poderia existir! 
Foi num domingo. -A minha Marta está muito sossegada hoje- comentei eu com todos os que me cercavam naquele dia. Na manhã seguinte fui fazer o exame da glicose e queixo-me à analista que a minha menina ainda não se mexeu. - Acha que pode haver algum problema? - De seguida ainda fui trabalhar mas o coração de mãe dizia-me que algo não estava bem! O meu marido nesse dia trabalhava longe de casa, foram os meus sogros que me levaram à urgência para ver então o que se passava com a minha menina!
Já dentro do consultório o médico liga o ecógrafo e coloca-o na minha barriga. Era naquele dia segunda feira dia 08/10/2010. Tinham passado quatro dias. O médico perguntou-me se na ultima consulta estava tudo bem. Ao que eu respondi sim. - Há algum tempo que não a sinto e estou preocupada! Não está tudo bem Dr? - Não não está! Respondeu-me ele com a voz muito abafada. Fiquei num silêncio com medo de perguntar aquilo que o meu coração já sabia. - A minha filha está sem vida? - Sim querida não há nada a fazer! - Senti como que uma espada afiada que penetra bem fundo no coração! Fiquei sem forças para me levantar e nem tão pouco falar! Nesse momento pensei, e agora?! Valeu-me uma equipa de médicos que se uniram para me apoiar. Deixaram-me gritar, deixaram-me chorar, deixaram-me tomar decisões importantes e tão cruéis! Decisões que têm de ser tomadas num momento de profunda dor! Pedi-lhes que me deixassem vir a casa falar com o meu rapaz. Como é que eu ia dizer a um menino de 7 anos, que queria tanto uma mana, que afinal ela tinha falecido dentro de mim. E que quando viesse do hospital viríamos sem ela? O pai contou-lhe e ele limitou-se a chorar e a esconder a dor só para me poupar. Voltei à maternidade entrei em processo de trabalho de parto. Passados 2 dias de profunda tristeza, em que o meu marido nunca me desamparou, esteve lado a lado comigo com muitos amigos e familiares para juntos superarmos esta enorme perda nas nossas vidas.
Nasceu de parto normal, sem vida e era linda! loira como o mano. Era a minha querida filha! Enfrentar o mundo foi a tarefa mais difícil. Sair daquele hospital vazia foi fazer tudo ao contrário e sem duvida o mais doloroso que já fiz nesta nova fase das nossas vidas. Perguntei muitas vezes a Deus? - Como é que é que eu vou conseguir lidar com esta dor? - Foi nesse momento que Deus me carregou ao colo e desde aí, em momento algum, me senti só ou desamparada! Toda a nossa comunidade se uniu para nos amar e estar do nosso lado! Houve também uma ajuda muito importante da psicóloga e amiga Dra. Bertina Tomé. Ela ajudou-me a avaliar a dor de uma outra dimensão. Nos primeiros tempos não me senti com forças de voltar a engravidar. 
Um ano passou e novos exames levaram-nos até à maternidade Alfredo da costa. Ia ser novamente mamã! Cheia de medos e incertezas, Deus mais uma vez me ajudou e deu-me a tão esperada menina! 
A 29/07/2012 nascia a Lia! Com uma linda cabeleira escura e rosto redondinho e tão fofo! 
A tão desejada recompensa estava já nos nossos braços! Tem agora quatro anos e é tão fofa que ninguém resiste ao seu sorriso e encanto! Agradeço a Deus todos os dias pela sua vida. Houve momentos que sim pensei em desistir mas, de repente, pensava que desistir não é opção!! Hoje vivemos felizes e somos 4 na terra e 2 amores no Céu.
Deus fez toda a diferença nas nossas vidas no momento mais doloroso que já vivemos até hoje. Foi preciso perder para depois ganhar.
Nunca desistam daquilo que vos pode vir a fazer tão felizes.

Por Filipa Andreia Garcia
Edição @Ana Valido
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