Creio que nenhuma mulher está verdadeiramente preparada para o enorme desafio que o pós-parto representa. E não há nada a fazer, é assim mesmo. Vivemos 9 meses de expectativas inteiramente direccionadas para o pequeno ser que cresce dentro de nós. Tudo gira em volta de nós e dele e para ele.
São os exames clínicos, as análises, as vitaminas, as medições. Depois vem o planeamento do parto, do quarto, do berço, das roupas que ele irá precisar. Aos 7 meses estamos a preparar a mala da maternidade e só aí começamos a pensar nas nossas necessidades.
Comigo foi assim. Tive de parar e pensar, espera lá, o que vou precisar para mim? Ainda não tenho nada!... Peeeedro! Temos de ir à Prénatal! Lá fomos comprar roupa interior e afins. Li imenso durante a gravidez mas nada me preparava para o que aí vinha. Era a 2ª vez que passava por um parto mas já havia passado tanto tempo! E é verdade que nem tudo é igual.
Desta vez foi mais tranquilo e controlado. Em 2000 nenhum Hospital privado estava devidamente equipado com unidades de cuidados intensivos neonatais. Na altura não quis arriscar a eventualidade de termos de ficar internadas em hospitais diferentes. Conheci alguns casos de bebés transferidos de urgência para Santa Maria ou para a Alfredo da Costa enquanto que as mães continuavam internadas nos Hospitais particulares. Hoje, só em Lisboa, temos a Cuf Descobertas, os Lusíadas e a Luz Saúde, onde o Simãozinho nasceu.
Também pude desta vez escolher o tipo de anestesia e escolhi epidural. Foi a primeira vez. A cesariana da Beatriz foi de urgência e com anestesia geral e foi a pior experiência da minha vida. Pensei que morria e não criava a minha filha. Reagi muito mal à anestesia. Ela nasceu segunda-feira à hora de almoço e só me consegui levantar quarta de manhã. A tensão desceu muito e cada vez que me sentava na cama, desmaiava.
Desta vez vi e ouvi o que se passava à minha volta, tive musica no bloco de partos, conversei e ri com os médicos, excepto quando a tensão desceu com a anestesia e comecei a vomitar, mas já tinha sido alertada minutos antes que isso iria acontecer, não foi surpresa. Não me assustei, portanto, quando o médico mandava a enfermeira dar-me 10cc de adrenalina, e mais outros 10cc.. (medo). Tudo foi reconfortante. Vi o meu bebé assim que o tiraram da barriga, todo sujo! e não chorava. A médica disse que ele tinha engolido um pouco de liquido, e entretanto ainda não chorava. Pergunto ao Pedro porquê é que o menino não chora? Calma, dizia ele! e não chorava. Pedro, porque é que ele não chora? Calma, amor eu estou a vê-lo estão de volta dele...e nisto, um choro!... mesmo choro de rapaz! Chorava ele, chorava eu! Vês, amor, ele esta bem, dizia o Pedro e ria-se, ria-se, e eu chorava, chorava! Fui super apoiada na maternidade, tudo tranquilo, quartinho só para nós, sol todo o dia. O Pedro dormiu connosco 2 noites, ajudou-me imenso. o Simão nasceu quase às 11, às 23 eu já estava de pé com a ajuda da enfermeira. Uma dor! indescritível! horrorosa! Bendita morfina que me davam pelo catéter da epidural que ainda estava espetado na minha coluna (tentava não pensar nisso).
O Simão dormia, dormia, como dormem quase todos os recém nascidos. Eles fazem de propósito para nós pensarmos que são uns anjinhos e ai quando se apanham em casa é só cólicas e nada de dormirem é o que é.
Ao 3º dia o Simão começou a ficar amarelinho. Ictericia. Não fazia coco nem xixi pois o meu leite ainda não tinha descido. Precisávamos de limpar do sistema dele o que causava a ictericia e por isso a pediatra mandou dar suplemento ao Simão. À noite ficou, como sempre,ao pé de mim mas em vez de dormir no seu bercinho tão fofinho, teve de dormir numa espécie de rede, dentro de uma caixa que mais parecia a caixa de areia dos meus gatos, a fazer fototerapia. Logo na noite na véspera de sairmos, que o Pedro não estava. Sempre que chamava, alguém vinha logo mas não era a mesma coisa.
Tive de lhe dar uma chucha que me tinham oferecido na maternidade. Ele chorou muito toda a noite e eu não dormi. Chorei muito por ver o meu menino tão desamparado dentro daquela caixa quente de olhos tapados. Orei tanto! Acho que foi aí que o instinto maternal tomou conta de mim e amei-o tanto como tinha amado a Beatriz. Amei ainda mais a Beatriz naquela momento! Meus amores queridos!
Este foi o único contratempo que tivemos. Eu não tinha levado chucha porque queria que o Simão fosse alimentado exclusivamente ao peito. Para esse efeito a chucha também é desaconselhada nos primeiros 15 dias de vida. Correu tudo diferente do que eu tinha planeado. Não só ele saiu com chucha da maternidade, como já vinha a tomar suplemento depois de mamar. O importante é que a bilirrubina desceu, nós tivemos alta e o Simão depois de 2 semanas já tinha recuperado o peso perdido.
O 1º mês foi terrível! Se não fosse a minha mãe que veio ficar comigo 2 semanas acho que tinha enlouquecido. Ela ficou responsável pela gestão da casa, o Pedro das compras e todos me ajudavam com o Simão. As noites... as noites eram o pior. Estava sozinha com o Simão enquanto todos dormiam. O Simão não dormia muito, tinha um despertador interior de 3 em 3 horas e demorava mais de 1 hora a mamar. Eu não pregava olho porque ainda não me habituara a dormir quando ele dormia. Só passadas umas 3 semanas assim que ele adormecia eu ferrava logo. Por vezes sonhava que ele acordava para comer, só que não era sonho ele acordava mesmo e eu a dormir em pé. Lá me levantava como podia, porque as dores foram imensas até tirar os pontos. Uma vez adormeci na cadeira a dar de mamar.
Ao pequeno almoço sentava-me à mesa que a minha mãe tinha preparado e só conseguia chorar. As lágrimas rolavam teimosamente pela cara abaixo pelo meio das dentadas à torrada e ao ovo mexido. A minha mãe, coitadinha, limpava-me as lágrimas e eu lá lhe contava a minha noite. Queria que eu a chamasse, para quê? só eu tinha o que ele precisava.
É muito importante nesta primeira fase delegar em outros as tarefas da casa a nossa única ocupação tem de ser o bebé e as suas necessidades.
A amamentação é o derradeiro desafio! Ninguém nos ajuda realmente. Eu posso testemunhar da minha experiência no público e no privado. Só se preocupam se temos leite e perguntam se eles mamaram. Raras vezes vêm ver efectivamente eles a mamarem o que na minha opinião acho fundamental. A maior parte das mulheres, acredito, não sabe amamentar. Pode naturalmente correr muito bem mas, não raras vezes, corre muito mal. Podia ser evitado com apoio e formação adequada. Sabem que depois do 1º mês de vida do bebé só 40% das mães continuam a amamentar, as outras desistem? Isto é dramático tendo em conta se desistem porque querem e não conseguem. Quem não quer é outro assunto e está no seu direito, mas quem quer! É mau! Ajudou-me muito um video que me chegou nem sei como, e que ensina algo fundamental para que a amamentação corra bem: a pega.(cliquem para assistir) Ou seja, a forma como o bebé agarra o nosso peito. Está em inglês mas é bastante ilustrativo. Isso fez desta minha experiência a melhor de sempre. Tudo a correr muito bem desta vez, sem dores e incómodos, nem mastites que tive no passado.
Com o tempo acredito, tudo irá encontrar o seu devido lugar e o Simão vai adquirindo os nossos hábitos e com paciência e amor, e sempre com ajuda, a harmonia irá, eventualmente, reinar em casa dos Validos. Uma coisa é certa, a nossa vida mudou irremediavelmente para melhor! Estamos apaixonados por este rapazinho que veio do céu, com amor!
Beijinhos, e obrigada por me lerem.
Foto minha por @Jandy Lopes